terça-feira, 9 de março de 2010

Entrevista - Jornal do Tocantins


Jornal do Tocantins

Entrevista - Angelo Corso
Advogado e aventureiro

"Quero testar meus limites e me conhecer melhor"

Poliana Macedo
Palmas

Três amigos em busca de auto-conhecimento, além de encontrar as belezas do povo e da natureza brasileira. Esse é o objetivo da Expedição Conectando que saiu do Rio de Janeiro no dia 22 de outubro de 2009, e pretende percorrer grande parte da região sudeste, centro-oeste, norte e nordeste do país, desbravando lugares desconhecidos pela maioria da população.
Angelo Corso Machado é advogado, Marcelo Toledo é marceneiro e Fábio Corso Brasão é professor de educação física. Eles pedalam em média 100 km por dia, em estradas de chão, e 150km no asfalto. Roupas, sacos de dormir, barracas, fogareiro, medicamentos, peças de reposição entre outros fazem parte da pequena bagagem desse aventureiros.
A trupe já percorreu aproximadamente 4 mil km, dos 12 previtos no roteiro e será a a maior expedição do país sem carro de apoio acompanhando os atletas. O término da Expedição Conectando será no ínicio do mês de abril no Estado fluminense.
Com o mapa do roteiro de viagem e um livro de Vinicius de Moraes, que o idealizador desse projeto, o advogado e agora ciclista Angelo Corso contou sobre as aventuras e supresas que encontraram pelo caminho.


De onde surgiu essa ideia de fazer a expedição?
Eu sempre fui apaixonado por esporte, história, geografia, poesia e natureza. E quando era criança sempre tive contato com a natureza e na escola, um professor de geografia utilizou um método diferenciado em suas aulas, usando o livro de Julio Verne – A volta do mundo em 80 dias – e aquilo me fascinou e fez pensar que queria fazer isso um dia.


O que você fazia antes de entrar nessa aventura?
Eu era advogado e exercia a profissão mesmo, além de dar aula em uma universidade lá do Rio de Janeiro. Desde 1999 que eu vivo nesse universo do terno e gravata e me cansei dessa coisa de formalidade excessiva, muitos conflitos que acabam nos afastando da nossa própria essência.


E quando você decidiu que tinha chegado a hora?
Eu não sabia em que momento ia fazer. Sempre viajei pelo Brasil de carro e já tinha começado com trilhas sozinho pelo Rio de Janeiro, uma delas, aliás, foi na ilha em que houve o desastre em Angra dos Reis, agora em janeiro e é o lugar mais bonito que já vi na minha vida.
No começo, pensei em fazer uma travessia aquática de 24 km em São Paulo. Treinava de três a cinco horas por dia e mudei de ideia por causa de um acidente com amigos.


Que acidente?
O escritório de advocacia em que eu era sócio fechou, pois meus dois sócios principais do escritório morreram naquele acidente da Air France e isso foi fortalecendo ainda mais a minha mudança de vida. Sendo que eu já tinha prometido para mim mesmo que o ano de 2009 seria meu último ano advogando, daí aconteceu isso e resolvi planejar a viagem.


E em quanto tempo preparou a viagem?
Durante três meses desenhei o roteiro que faria nessa viagem e ficava até duas da manhã trabalhando nisso. Separei um cantinho na casa da minha mãe para ir guardando o material da viagem e organizando aos poucos.


E como seus amigos entraram nessa aventura?
Eu queria fazer um roteiro com chapadas, cavernas e rios, além de conhecer o interior do país e está próximo do povo. Eu não via uma outra forma de está perto dessas pessoas, se não estivesse em um veículo que pudesse chegar e poder apertar a mão dos outros, abraçar, manter um contato mais próximo. Daí, no almoço de despedida que fiz na minha casa, o Marcelo resolveu ir e conseguiu dinheiro para me acompanhar penhorando o carro. Meu irmão ficou naquela de cara de ‘cachorro-sem dono” e conseguiu arrumar o dinheiro com um e outro para vir na viagem. Com isso, retardei a viagem em dois dias para que pudesse organizar o material deles.


De onde sairam e até onde vão?
Saímos de Paraty (RJ) e fizemos o Trajeto do Ouro até Diamantina (MG) e as cidades históricas até Januaria, no extremo norte de Minas, grande sertão veredas e por ai vai. Fomos para Brasília e depois Chapada dos Veadeiros, onde passei o pior momento da viagem.
Na maior parte dos lugares que vamos, sempre acrescentamos outros destinos que são indicados pelos moradores locais e foi asism que chegamos logo depois no Parque Estadual do Terra Ronca (GO). De lá fomoa para o Jalapão e depois vamos para a Ilha do Bananal e Lagoa da Confusão que foram incluídas no roteiro essa semana. Depois vamos para o sul do Pará, Manaus (AM), Pico da Neblina, que fica no extremo norte do Estado do Amazonas. Dali vamos para o Amapá, Pará passando por Belém, depois interior do Nordeste até chegar no Rio.


E como foi esse momento ruim na Chapada dos Veadeiros?
Foi no dia 16 de dezembro. Acordei meio de ‘ovo-virado’ e fui na cachoeira Vale da Lua, que fica dentro da Chapada dos Veadeiros. Chegando lá, um lugar lindo, mas vi que a correnteza estava forte e sai da água. Tinha um casal no local também, daí fui andar pelas pedras e vivi minha cena de terror, pois quando olho para o fundo de um buraco enorme, que pareceia uma banheira, vi um corpo boiando na água e não acreditei naquilo. Fiquei sem saber se pulava ou não para ajudar e percebi que estava morto. A menina tinha caído com o namorado lá dentro, devem Ter escorregado nas pedras. Corri até a portaria e chamamos os bombeiros para tentar resgate. O corpo do namorado estava no fundo dessa ‘banheira’ e fiquei mais chateado, pois acredito que tenha acontecido enquanto eu estava no local e pelo barulho da cachoeira não pude escutar algum pedido de socorro. Eu nem quis olhar para o rosto da menina, porque até hoje sonho com essa cena. Você se sente impotente.


E o que mais te motiva em fazer essa expedição?
Testar meus limites e me conhecer melhor. É muito interessante quando os caminhoneiros param do seu lado e você está pedalando no sol de rachar. Eles te oferecem carona e você recusa, te conseideram um louco, mas você quer viver aquilo e saber até onde isso pode te levar.


E patrocínios?
Estamos bancando do próprio bolso. Montei uma empresa que organiza eventos esportivos e para essa expedição temos alguns ‘apoios’, no caso é da padaria da minha mãe e da loja do meu amigo lá no Rio. Em Minas por exemplo, teve lugares que as pessoas nos convidavam para ficar hospedados em suas casas, isso ajuda muito economizar. Teve gente que amarrou nossas bicicletas para que não fossemos embora.


Algum plano para o futuro?
Futuramente essa aventura vira um livro e devemos fazer também uma exposição de fotos. E vai servir para muita coisa principalmente como lição de vida para mim e quem ler esse livro que conterá poesias, narrativas e muitas fotos. Quero continuar com expedições e viver disso.


*Na foto - Angelo, Marcelo e Fábio na Cachoeira da Velha - Jalapão - Tocantins.

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